segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

windowfarms

Já já vou explicar o que é, mas antes imagine o seguinte cenário: almoço em família no fim-de-semana. O encarregado pela execução das gostosuras é você. Escolheu preparar um cordeiro. Um pernil de cordeiro. Vai querer caprichar, comprar tudo com antecedência e deixar marinando para pegar todo o sabor das ervas, por exemplo. Vai servir salada também? Vai ao mercado, mas não vai comprar nenhuma erva ou folha. Prefere colher as do seu apartamento. Colher? Apartamento? A ideia de cultivar uma horta dentro de um apartamento pode parecer surreal no início, né? Mas existe salvação! E quando vejo ideias e sistemas como esse me encho de esperança e penso que podemos sim ser mais orgânicos do que somos, com menos esforço que jamais imaginamos e fazendo alguma coisa na luta contra os agrotóxicos, venenos que saltam na nossa mesa sem bater na porta, pedir licença ou ter o mínimo de bom senso. E vida! Vamo colocar mais verde na cidade, mais vida dentro de casa e mais colorido nas janelas!


Tô falando de Windowfarms, um sistema de cultivo e crescimento de plantas e vegetais que provavelmente se encaixará em sua janela, disponibilizando vários alimentos mega frescos pra você praticamente o ano inteiro. Funciona mais ou menos assim: é um sistema vertical onde a água é bombeada de baixo pra cima, vindo de um reservatório localizado em sua base, e vai gotejando água e nutrientes abaixo, de garrafa em garrafa, matando a sede das raízes ao longo do caminho. Toda a água e nutriente não absorvido em um ciclo voltam para o reservatório e são bombeados novamente no ciclo seguinte. 


                                       
         


Além de tudo, o sistema é bem prático: seja comprando ou construindo o 'jardim vertical', é só seguir as instruções, escolher suas plantas, trocar a água uma vez na semana e limpar o sistema uma vez ao mês. A equipe deles ainda dá dicas na escolha do que plantar, de acordo com o 'micro-clima' da sua janela. Desculpem parecer clichê, mas colher vegetais cultivados por você, dentro de um apartamento, realmente não tem preço.




Agora por que divulgar e fazer propaganda desse sistema? O que eu ganho com isso? Sozinho eu não ganho nada! Isso por que não só eu ganho, mas você ganha, nosso corpo ganha, o país ganha...o mundo? Vixe, esse nem se fala. E o melhor de tudo: as empresas produtoras dos venenos químicos perdem! Lógico que atingir essas empresas é algo muito futuro, é necessário uma enorme conscientização, até por que no início elas não sentirão nem cócegas. Por isso que eu acho que se deve ter Windowfarm principalmente pelo seu bem estar, e pelo prazer de ter sempre ingredientes frescos e prontos pra serem usados em suas preparações. É construir essa parada por você! E pra quem cozinha, profissionalmente ou não, existe prazer maior que colher aquele manjericão na hora? Aquela hortelã? Aquele alecrim? Um coentrinho? É indescritível gente, sério mesmo. 


Falando de agrotóxicos, o Brasil é o maior consumidor no mundo desde 2008. Significa que, em média, cada brasileiro consome 5,2 litros de agrotóxicos por ano! Pra quem ainda não assistiu ao documentário ''O veneno está na mesa'', de Silvio Tendler, fica a dica. Fica a dica duas vezes. Isso não é uma campanha contra empresas produtoras de agrotóxicos (mesmo que pareça!), mas sim uma campanha pela vida. O que acontece é que apesar de não parecer ofensivo e prejudicial, o veneno está mais que na nossa mesa, já tá dentro do nosso corpo faz tempo e vem prejudicando e matando cultivadores e trabalhadores rurais, os que tem contato direto e diário com esses produtos. Além disso, eles têm que fazer uso desses produtos para o controle de pragas, para que possam receber apoio e financiamento de bancos para continuarem com suas plantações. Pra ter uma ideia de como são as coisas, o metamidofós, princípio ativo que provoca danos e mais danos à saúde, já foi proibido em países como China, Japão, Indonésia e Costa do Marfim, e também será proibido por aqui em 2012. Graças! Que vitória!


A outra vitória depende de mim, de você. A construção de uma Windowfarm pode trazer benefícios pra sua comunidade, mas trará principalmente mais saúde e frescor pra você e seus pratos. Segue abaixo algumas das dúvidas mais frequentes do site, assim como o link da comunidade Windowfarm, onde windowfarmers e interessados no sistema compartilham experiências e tiram dúvidas sobre a implantação.


- o que é?

  • é um sistema vertical e hidropônico de cultivo, que permite a utilização de luz natural e o crescimento durante o ano todo em praticamente qualquer janela. 

  • uma maneira eficiente e saudável de crescimento de vegetais, ervas e folhosos que utiliza pequenos espaços e por isso é utilizado no sistema Windowfarm;
  • acomoda maior variedade de necessidades específicas de cada planta;
  • proporciona bons frutos mesmo fora de época;
  • plantas maiores podem crescer em espaços bem menores já que o volume de sujeira é vastamente reduzido.

  • pouca utilização de energia e bombeamento automático da água;
  • fácil adaptação do sistema de bombeamento às características da planta e ao 'micro-clima'.

  • de couve à agrião, morangos à ervilhas, manjericão à camomila;
  • quase tudo, com exceção de tubérculos como batata e rabanete, e plantas como milho e trigo, muito altas para o sistema.

Para mais dúvidas, a página 'I Think I Want' vai te ajudar, é só pesquisar outras dúvidas frequentes sobre o sistema. 

Quer saber o que andam falando sobre hidropônicos? Tem pé atrás sobre o sabor de um produto cultivado dessa forma? Então confere a matéria ''Want Fresher Produce?'', do NY Times.

Eu não tenho pé atrás. Quero meu jardim já!

beijo a todos! 
(valeu Luiz Santos por me apresentar a Windowfarms)

Ah, e a página 'Quero ser cozinheiro' no facebook, já viu qual é? Food styling, restaurantes, uma galera fazendo trabalhos legais sobre gastronomia e várias outras paraditas! Segue lá!






quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

sotero cozinha original

eu já vou começar pedindo desculpas pelo mês de distância do blog. não por que eu ache que alguém sentiu falta, não vou ser tão pretencioso, mas por achar que uma vez assumindo o compromisso de um blog, é obrigação atualizá-lo, não importa se são 10 ou 1000 pessoas lendo. então por isso vamos falar de coisa boa, até por que eu não poderia deixar de dedicar um texto inteiro ao Sotero, afinal, se o D.O.M. foi o início de São Paulo, o Sotero foi o meio e o 'até breve'.

como eu falei no texto anterior, eu iria passar o mês de novembro estagiando com o chef Rafael Sessenta, comandante da cozinha do Sotero. novembro passou e foi só alegria. o Sotero foi uma escola, é o sonho pra quem gosta de cozinha regional, além de ter uma excelente estrutura: cozinha ampla e profissionais dispostos a te ensinar, coisa que não se encontra em todo lugar.

muita gente me perguntou como eu consegui os estágios em São Paulo. sobre o D.O.M. eu já expliquei antes, sobre o Sotero eu vou explicar agora: liguei pro chef. e não, ele não me conhecia. o que eu ainda não expliquei é que conheci o trabalho dele através da minha tia, Luciana de Melo, que me emprestou o primeiro livro escrito por ele, Memórias de um Homem na Cozinha. pesquisei um pouco mais sobre a história dele, sobre o programa que apresentava na TV Salvador, sobre a forma como trabalhava os ingredientes nacionais e resgatava pratos e a cultura da Bahia contida neles. até aí eu não sabia se o chef continuava com sua Escola de Gastronomia em Salvador, se estava com restaurante na cidade ou alguma das outras inúmeras possibilidades. na verdade ele estava longe dali, mais precisamente no bairro de Santa Cecilia, em São Paulo, inaugurando o 'Sotero Cozinha Original'. nessa época me perguntei: que estudante de gastronomia não pensa em passar pelo menos um tempo em São Paulo? se tem, eu não conheço, e também nunca foi o meu caso; era a hora de ver qual era. telefone na mão, liguei pro chef e pedi pra passar um tempo aprendendo com eles. pra minha felicidade, ele foi sempre muito acessível e me recebeu pra uma temporada por lá, logo depois que passei pelo D.O.M. ah, por que eu liguei? como eu liguei? isso se faz? sou cara-de-pau? tudo isso a Sudbrack responde muito melhor do que eu poderia responder quando escreveu em seu blog: ''(...) insista, mande cartas, se expresse, se debata, ligue, tente até as últimas consequências. nós já estivemos no seu lugar e certamente teríamos feito o mesmo''. tá vendo? então, não fica de vergonhinha, de preguicinha. é a Sudbrack falando, acredita nela!

voltando ao Sotero, se eu fosse listar tudo o que aprendi por lá, demoraria ainda mais até esse texto ficar pronto. pra resumir, além das moquecas, bobó, baião, arroz do mar, de polvo e de hauçá, ambrosia, banana real, o MELHOR pudim de tapioca, cocadas, bolinho de estudante e obviamente, acarajé, caruru e vatapá entre outras maravilhas, aprendi muito sobre trabalho em equipe, hierarquia e mise en place, e como uma mise en place bem feita faz o serviço fluir muito mais fácil e natural. 


e por ter aprendido tudo isso e muito mais é que agradeço ao chef Rafael Sessenta pela oportunidade e paciência durante suas explicações...



...a Lai Galvão e ao Rafa Spencer por também terem me recebido tão bem...







...a toda a galera do salão e, como não poderia deixar de ser, ao Mineiro, que me mostrou como a cozinha pode e deve ser realmente descomplicada...











...a Jô, que me deu a base do acarajé e ao Duca, que mostrou o passo a passo de todo o processo até termos uma carne de sol de excelente qualidade...


                                                          




...e finalmente a Lú, a baiana recém-chegada, parceira na produção dos doces e que me ensinou um molho de pimenta daqueles.
                              



eu não tenho palavras pra dizer o quanto essa experiência foi grandiosa pra mim. vocês são minhas maiores saudades de São Paulo e espero voltar pra quem sabe dar sequência a este ciclo. obrigado do fundo do coração mesmo!

agora vocês ficam pensando, ''mas e aí, Felipe? foi, aprendeu, gostou, se divertiu, comeu bem...e não vai dividir nada com a gente?'' lógico que vou! da mesma forma que o chef dividiu em uma entrevista dada à revista 'Prazeres da Mesa', na qual ele fala sobre os rumos que a cozinha baiana está tomando e o que fazer para torná-la viável fora da Bahia e do Brasil, por que não? além disso o chef revela ao final da entrevista algumas receitas, entre elas a do Arroz de Hauçá, um dos carros-chefes do restaurante. prato afro-baiano, trazido pra cá pelos negros hauçás - muçulmanos habitantes do norte da Nigéria - e historicamente oferecido à Oxalá e Iemanjá, sendo cozido somente em bastante água, sem óleo e nenhum tempero, até ficar mais 'empapado' (fonte: Sou Salvador). gastronomicamente falando, é um arroz que passou do ponto e que ganha cremosidade ao ser somado ao leite de coco, servido com carne seca e molho de camarão seco. no prato servido no Sotero, o molho de camarão seco dá lugar a camarões frescos, uma grande sacada do chef. 

sem me prolongar ainda mais, recomendo a leitura esclarecedora dessa entrevista. a receita que vou passar é praticamente a mesma que ele dá ao final da entrevista, com algumas pequenas adaptações, já que em outros estados alguns ingredientes não são tão facilmente encontrados como na Bahia, caso do camarão seco, por exemplo. 

sobre a foto, eu não conseguiria tirar uma melhor que essa nunca.

é com muita saudade do Sotero, de Salvador e de São Paulo que peço que aproveitem a verdadeira cozinha original da Bahia, cheia de história, cultura e muito, muito sabor.

beijo a todos.

arroz de hauçá (4 pessoas):

para o arroz:
400g de arroz já pronto (não comprado pronto, o que foi feito por você!)
- 1 xícara de chá de leite de coco
- 2 colheres de sopa de amendoim torrado e triturado
- 2 colheres de sopa de castanha de caju torrada e triturada (hoje você já encontra tanto a castanha quanto o amendoim já triturados no supermercado)

para a carne seca: 
- 500g de carne seca de boa qualidade
- 1 cebola roxa picada
- azeite de oliva
- 1/4 de xícara de chá de manteiga de garrafa (encontra fácil em mercados)
- um punhado de salsinha picada

para o camarão:
- 500g de camarão grande e já limpo
- 1 cebola picada
- azeite de oliva
- azeite de dendê
- um punhado de cebolinha picada
- sal

o arroz é o seguinte: você pode usar aquele arroz que já tem pronto na sua casa, sem problema nenhum; mas caso faça um novo, ao invés de fazer na proporção de 2 pra 1 de água, utilize um pouco mais, ou seja: pra 1 1/2 xícara de arroz, utilize entre 3 1/2 e 4 xícaras de água, o que vai deixar o seu arroz um pouco mais 'unido' eu diria. não acrescente ainda o leite de coco e os demais ingredientes, ainda vamos chegar lá.

    deixe a carne seca de molho em um recipiente com água de um dia pro outro. troque a água esporadicamente, mais ou menos de 3 em 3 horas. eu não tenho muita regra pra isso, ou seja, não precisa acordar no meio da noite pra trocar a água. no dia do preparo, coloque uma panela com água pra ferver e escalde a carne. escaldar nada mais é que colocar a carne na panela com água fervente e retirar alguns minutos depois. você pode repetir (ou não) esse processo 2 ou 3 vezes para que a carne fique mais ou menos dessalgada. depois desse processo, descarte a água da panela, encha novamente e cozinhe até que a carne fique macia. quanto tempo é isso? o tempo necessário, você vai perceber quando a carne estiver numa textura boa pra desfiar, ela vai se desfazer facilmente. 

    com a carne já desfiada, aqueça um fio de azeite de oliva numa frigideira, refogue sem dourar a cebola roxa picada (deixe apenas a cebola murchar levemente), adicione a carne desfiada e um minuto depois a manteiga de garrafa. deixe apurar um pouco, mexendo apenas de vez em quando. finalize com a salsinha picada. prove e corrija o sal se necessário. dica: não deixe muito tempo a carne refogando na frigideira, esse processo é bem rápido, até por que a carne já está cozida. caso passe do tempo, a carne vai ficar ressecada e perder muito em textura.

    o tempo de preparo do camarão é bem reduzido, por isso atenção total pra que ele não passe do ponto: em uma frigideira aquecida, refogue a cebola picada em um pouco de azeite de oliva. adicione o camarão, sal, um fio de azeite de dendê e a cebolinha verde picada.

    hora de finalizar: aqueça em uma panela o leite de coco, adicione o arroz, a castanha e o amendoim. mexa até que o arroz agregue todo o leite. com a carne refogada e o molho de camarão prontos, é só servir e aproveitar esse prato que rendeu até uma aulinha de história né?


    qualquer dúvida, manda uma carta ;)


    e para os que estão em São Paulo, ou de passagem por lá, vale a pena conferir as delícias do Sotero:


    Sotero Cozinha Original
    R. Barão de Tatuí, 282 - Santa Cecília, São Paulo/SP
    11 3666-3066
    http://www.soterorestaurante.com.br/



    sexta-feira, 4 de novembro de 2011

    domus optimo maximo!



    e aí, fiRmeza? pra quem não sabe, tô passando uma temporada em São Paulo. loucura né? pois é. o plano inicial era estagiar no D.O.M.. na verdade, o plano inicial era o 21, a cozinha de produção do D.O.M., onde está a maioria dos estagiários, todos disputando um lugar ao sol na aclamada cozinha de Alex Atala. alguns entram na cozinha do D.O.M. de cara. foi o meu caso. mas vou falar uma coisa, principalmente para quem estuda gastronomia, para quem pensa em estudar ou até mesmo para quem já é cozinheiro (e para esses, peço desculpas pela ousadia e abuso, afinal ainda estou nas fraldas): analise se o perfil da cozinha, do chef e do restaurante se encaixam com o seu perfil, desejos, sonhos, ideias e demais princípios que você ache importante. melhor ainda: parta do outro lado, analise se você se encaixa no perfil deles. já tinha lido e ouvido alguns chefs falarem isso, principalmente a Sudbrack, mas só pude escrever depois de viver essa experiência.


    explico o por quê: uma experiência em um restaurante da grandeza do D.O.M. é sensacional para o currículo de qualquer estudante ou cozinheiro. mas se você não estiver dentro do perfil de serviço deles, talvez a experiência não seja aquela que você pensava. daí você cai num dilema: fico e coloco essa experiência de estágio no '7° melhor restaurante do mundo' no currículo ou parto para outra onde eu acho que o aprendizado será enorme e acrescentará muito no currículo também? meu pai costuma me dizer: ''Felipe, você é muito idealista, mas a gente tá num país em que isso nem sempre dá muito certo''. mas pai, lamento te desapontar, mas se fosse diferente, não seria eu. por isso, a segunda opção me pareceu mais coerente. ah, por favor, não me critiquem, é a forma que eu penso e arco completamente com as possíveis consequências. dessa forma, fui para o Sotero Cozinha Original, do chef baiano Rafael Sessentana verdade, antes de surgir a oportunidade do D.O.M., a minha ideia já era de passar um tempo no Sotero. sou fá do chef Rafael Sessenta desde que conheci seu trabalho, no início desse ano, pela forma que ele vem resgatando a cozinha baiana original e, além disso, dando a ela um ar contemporâneo. cozinha baiana essa que, acreditem, vai muito além de dendê e acarajé. mas isso é assunto para um texto posterior. 


    vou reservar mais um pouquinho pra falar do D.O.M.: como eu disse, existe a cozinha principal e a cozinha do 21, a cozinha de produção do D.O.M., onde também são preparadas as refeições dos funcionários. o 21 tem umas 6x mais a quantidade de estagiários do D.O.M., então imagina a 'guerra' que é para conseguir uma vaga na cozinha principal! quando eu percebi essa 'disputa', pensei: por que? por que eles querem ir pra cozinha principal de qualquer forma? nesse momento, uma resposta mais que sensata seria 'ah, por que é a cozinha do D.O.M.!' ou então 'ah, por que muitas vezes você vai estar perto do Atala!'. certo? certíssimo! além disso, no D.O.M. você vai ter a noção do que é o serviço em um restaurante mega conceituado, do que é a correria e a 'paulera' da 'hora do rush'. é, mas para mim, na minha opinião - e é bom que essa parte fique bem destacada para não gerar confusão e/ou polêmica - antes da noção de serviço, o estudante de gastronomia e estagiário deve ter noção de cozinha, do que é cozinhar, do que é ser cozinheiro, nesse caso, aprendiz de cozinheiro. e eu acho que é justamente na cozinha do 21 que se adquire essa base. óbvio que isso também acontece na cozinha do D.O.M., na cozinha principal, é lógico. mas sabe aquele sentimento de que 'parece que eu tô pulando alguma etapa'? pois é, e essa etapa é muito importante, é essencial. muitos não querem nem passar pelo 21, acham que descascar batata, lavar louça e fazer faxina não fazem parte do processo de formação de um cozinheiro. aliás, acho que muitos nem pensam em ser cozinheiros, pensam logo em ser 'chefs'. bonito né? no meu caso, me olhavam como se eu tivesse surtado quando pedi pra fazer o caminho inverso: sair da cozinha principal e ir pra cozinha do 21. não deu, então segui meu caminho.


    pra completar, não posso deixar de citar o Philipe Martins, prodígio da gastronomia, amigo da vida e da faculdade, na verdade mais pra um irmão agora. eu devo 95% dessa vinda pra São Paulo a ele, os outros 5% vêm da vontade que eu já tinha de ver qual é a dessa megalópole. o próprio Philipe, que parece ter muito mais experiência em cozinha que seus 19 anos podem falar, passou pelo 21 antes de ir pra cozinha do D.O.M. então, se me permitem ainda passar alguma mensagem nesse texto, fica a dica: se preocupe primeiro em ser um grande cozinheiro! sucesso e status virão caminhando com muita dedicação, estudo, amor e qualidade em suas execuções/criações. não pule nenhum passo, por que cada um deles é muito importante na nossa formação profissional e também pessoal, quem disse que não?


    em breve receitas!
    beijo a todos.

    quarta-feira, 19 de outubro de 2011

    abra o seu coração, pro chuchu com camarão!

    o primeiro comentário feito quando falei sobre camarão com chuchu foi: ''um grande desperdício de camarão''. mas eu te digo senhor rodrigo salú: grande engano. algumas coisas não existem para serem degustadas solitariamente, e o chuchu é uma delas (minha opinião). ou você vai me falar que chega em casa, cozinha um chuchu no vapor, salpica sal e pimenta-do-reino, rega com azeite e come? se o faz, tudo bem, respeito. mas eu vim pra falar de outra coisa: do supra-sumo da preparação do chuchu, o auge da degustação da(o) 'sechium edule', o melhor do melhor do mundo dos pratos preparados com esse vegetal marginalizado; vim pra falar de camarão com chuchu! e peço que abra o seu coração, pois o que você está prestes a experimentar vai mudar sua cabeça e perceber que chuchu pode sim ser delicioso!


    é um prato cheio de história: o ensopado de camarão era consumido no centro do Rio no fim do século XIX, e sofreu influência dos guisados portugueses. os cozinheiros da Confeitaria Colombo foram os responsáveis por acrescentar o chuchu à receita, descoberta feita após uma pesquisa para o resgate da história gastronômica da confeitaria. deu até música: Carmen Miranda cantou em ''Disseram que eu voltei americanizada'' que 'eu sou do camarão ensopadinho com chuchu' (fonte: chef Cris Leite e Cozil). 
    ou seja, camarão com chuchu é uma linda homenagem à gastronomia brasileira e aos cariocas. e falou em culinária nacional, falou comigo mesmo rapá!


    a execução da receita não é difícil, mas requer um pouco de carinho e paciência só. dou os créditos dela ao chef Renato Freire, que ensinou esse prato em uma de nossas aulas na faculdade. maaaaas, dei o meu toque à receita. mas por que eu mexi na receita? calma calma, a resposta é simples: esqueci de comprar a pimenta dedo-de-moça e, quando saí pra procurar aqui perto de casa, nenhum dos 3 hortifrutis tinha. é, Niterói tem lá suas desvantagens. são poucas, mas tem.


    segue a receita e a maneira de se preparar. aproveitem e tenham a certeza que o chuchu ficará muito feliz com essa homenagem!


    beijo a todos.

    para o camarão com chuchu:
    • 500g de camarão cinza, ainda com cabeça e casca
    • 300g de chuchu, cortado do jeito que preferir (se quiser bolear, faça!; se preferir e tiver a habilidade para tornear, idem!; ou corte em cubos, é mais fácil, mais prático, mais simples)
    • 1/2 cebola picada
    • 2 dentes de alho picados
    • 2 tomates cortados em cubos pequenos, sem pele e sem semente
    • 2 colheres de sopa de folhas de coentro picadas
    • 2 colheres de sopa de talos e raízes de coentro picados
    • 2 colheres de sopa de salsinha picada
    • 2 colheres de sopa de cebolinha picada
    • 1/4 de pimentão vermelho sem semente, picado
    • algumas gotas de tabasco
    • azeite extravirgem
    • 1/2 limão
    • sal e pimenta-do-reino
    para o caldo de camarão:
    • cascas dos camarões
    • 1/2 cebola picada
    • 2 dentes de alho
    • 1/2 cenoura picada
    • 1 colher de sopa de extrato de tomate
    • 200 ml de vinho branco
    • 200 ml de água
    • azeite extravirgem
    • sal e pimenta-do-reino


    vamos seguir o procedimento padrão, organizando toda a matéria-prima primeiro, pra não sermos pegos de surpresa com alguma coisa faltando no meio da execução. por isso, começando pelo caldo, vamos retirar a casca e cabeça dos camarões, limpá-los e porcionar os demais ingredientes. depois é aquecer uma panela e adicionar bastante azeite, refogar a cebola sem dourar em temperatura média pra alta, jogar o alho e a cenoura. deixe essa mistura refogando até o azeite começar a mudar de cor e adicione as cascas de camarão (não esqueça de lavá-las, eu quase esqueço de falar!). nesse ponto eu tempero com sal e pimenta-do-reino, depois é só a gente corrigir o tempero. quando as cascas do camarão começarem a ficar rosadas, adicione o extrato de tomate e mexa. coloque o vinho branco e deixe reduzir, até que o álcool evapore e só fique o aroma do vinho. adicione a água e deixe cozinhar lentamente. por quanto tempo? não sei mesmo, eu deixo até o ponto em que o líquido engrosse levemente e fique cobrindo parcialmente as cascas de camarão.


    feito isso, é hora de desligar o fogo, passar esse caldo pro liquidificador, bater bem, coar e pronto, nosso caldo de camarão tá pronto. prove e corrija com sal e pimenta-do-reino se for necessário. 

    agora fica ainda melhor. como os ingredientes do prato já foram separados também, refogue a cebola e o alho em um pouco de azeite até que a cebola comece a ficar transparente. junte os talos e raízes de coentro picados, o pimentão vermelho e os tomates. deixe cozinhar até que o tomate comece a desmanchar, mas não deixe virar polpa. adicione o caldo de camarão, abaixe o fogo e deixe reduzir. junte o chuchu e cozinhe até que fique 'al dente'. adicione os camarões, cozinhe por mais uns 30 segundos até os camarões mudarem de cor (cuidado para o camarão não passar do ponto), tempere com sal e pimenta, esprema metade de 1 limão, adicione algumas gotas de tabasco a seu gosto e finalize com o restante das ervas picadas.

    tu pode servir puro mas eu recomendo um simples, fresco e bem feito arroz branco.

    numa boa? um dos meus pratos preferidos. e salve o Rio de Janeiro!



    p.s.: hoje não foi a Lara Lima quem tirou as fotos. aí você vê o resultado.

    segunda-feira, 10 de outubro de 2011

    'from me to you': arrabbiata na cachaça!

    apesar de não gostar de sair em fotos, sempre adorei fotografia. meu coroa, sempre ele, já foi mergulhador e fazia fotos subaquáticas. minha ideia era mais simples, fotografar algumas coisas que eu fazia na cozinha. conversando com a Lara Lima, amiga e fotógrafa, amadurecemos a ideia. a ideia era fazer algo parecido com um trabalho feito pela Jamie Beck. escolhi o que faria: uma 'arrabbiata (all'arrabbiatta) na cachaça' e uma salada verde simples pra acompanhar. o motivo da escolha do prato foi o seguinte: (1) adoro cozinhar massa!; (2) sabia que a coloração do prato daria um bom resultado visual nas fotos. enfim, aprovado pela Lara.

    fomos às compras, afinal, nada como ingredientes frescos na cozinha, né? fica a dica!



    'arrabbiata' significa algo como 'queima', ou seja, o molho é picante e absurdamente aromático. já vi em alguns lugares ser preparado com pimenta calabresa, eu fiz com dedo-de-moça; já vi usarem bacon, eu usei anchova em conserva (mentira, usei sardinha anchovada, é mais barato!), mas não tenho certeza se a receita original utiliza algum dos dois; acrescentei cachaça, que realçou o aroma do prato e deu o toque nacional e por fim, troquei o penne por spaghetti, apesar de recomendar que seja feito com o penne mesmo, por que o formato dessa massa agrega melhor o molho. mas pra essas fotos achei que o spaghetti ficaria melhor.
    comecei meio sem jeito né, por que pra quem não gosta de sair em fotos, ser exclusivamente fotografado é complicado. mas a estrela não era eu, era ela, minha querida dedo-de-moça...


    ...e os tomates, óbvio.


    a execução do molho é bem fácil, e o resultado foi mais ou menos esse...


    nesse momento a cozinha tava tomada: o aroma da pimenta, com a 'anchova' e a cachaça dominaram o lugar. comecei a cozinhar o spaghetti, e a dica que eu dou é a seguinte: siga as instruções do pacote de massa, ele não vai mentir pra você. se ele diz pra usar 1 litro de água pra cada 100g de massa, faça isso; você vai ver que no final aquela lenda de colocar óleo pra massa não grudar é realmente somente uma lenda. 
    ah, e como eu sei que a massa tá pronta? eu provo! nada de ficar jogando a massa na parede e esperar ela escorregar pra ver se tá 'al dente'. é capaz de você ficar sem massa pra comer no final. cozinheiros mais experientes acho que sabem só pelo tempo, ou só de olhar. eu ainda não possuo essas incríveis habilidades. mas ainda assim consegui deixar a massa no ponto certo...e se eu consegui, você também consegue.


    o resultado final ficou bonito. não sei se foi mérito meu também, ou a Lara é tão boa que deixou esse prato lindo. vou dar o mérito aos dois.





    ah, e a salada verde? nada demais. tu vai na feira/hortifruti/mercado e faz uma seleção das suas verdinhas favoritas. ah, eu quero alface americana! coloca alface americana...eu quero rúcula! coloca rúcula...eu quero radicchio! coloca radicchio...e por aí vai. recomendo os produtos orgânicos, talvez você gaste um pouco mais, só que vai ter a garantia de um produto cultivado sem agrotóxicos e sem fertilizantes químicos, etc. 



    quase esqueço! também rolou uma sobremesa, o sorvete de banana instantâneo...


                                                              


    mas a receita desse sorvete ainda é segredo. só conto mais pra frente, junto com o Luiz Santos, amigo da gastronomia e das aventuras gastronômicas.

    as receitas seguem abaixo. e tratem de testar!
    beijo a todos.

                               
    para o molho all'arrabbiata:
    • 3 pimentas dedo-de-moça inteiras
    • 3 colheres de sopa de azeite extravirgem
    • 2 dentes de alho descascados e cortados em tiras
    • 1/2 maço de salsa
    • filés de anchova em conserva, a seu critério, mas uns 5 ou 6 ficam de bom tamanho
    • 1 lata de tomate pelado, sem as sementes
    • 2 doses de cachaça
    • 1 limão
    • 1/2 kg de spaghetti
    • sal e pimenta-do-reino


    caso você tenha uma wok, eu recomendo o uso dela. dá pra fazer o molho nela e depois só adicionar a massa. caso não tenha, pode fazer em uma frigideira comum ou em uma panela funda mesmo. 
    faça toda a arrumação primeiro, pra que você não fique perdido na hora da execução. caso tenha potinhos ou copos plásticos, coloque cada ingrediente separadamente nos potes/copos. assim você maximiza seu tempo, suja menos e tem menos trabalho na hora que estiver concentrado fazendo o prato.


    ou seja: faça furinhos na pimenta com a ponta de uma faca, descasque e corte o alho, retire e pique as folhas do maço de salsa e pique os cabinhos, retire as sementes dos tomates, e coloque a água do spaghetti para ferver (não esqueça a proporção de água/massa).


    coloque o azeite e as pimentas na wok e deixe fritar em fogo médio por uns 5 minutos (não precisa contar no relógio). aumente o fogo, junte o alho, os talos de salsa picados e os filés de anchova/sardinha anchovada. mexa e quando o alho começar a mudar de cor, adicione os tomates. tempere com sal e pimenta-do-reino. deixe ferver e adicione a cachaça. baixe o fogo e deixe o molho cozinhar lentamente, pra que todos os sabores se juntem. a boa é ir batendo de leve nas pimentas com uma colher de vez em quando, pra que elas liberem seu sabor no molho.


    se a água do spaghetti já estiver fervendo, coloque um pouco de sal, deixe ferver novamente e acrescente o spaghetti. não precisa colocar óleo: se a água estiver fervendo fique tranquilo que a massa não vai grudar! um bom spaghetti deve demorar uns 11 minutos pra ficar pronto. agora a maldade: você escorre o spaghetti 1 ou 2 minutos antes dele ficar pronto e mistura direto no molho, que é aonde ele deve finalizar a cocção.


    pra finalizar, salpique as folhas de salsa picadas na massa, rale a casca do limão e esprema o suco também. dá uma regada com azeite e pronto. essa quantidade serve legal 2 pessoas.

    para a saladinha verde:
    • folhas verdes para salada (alface, endívia, rúcula, agrião, radicchio, etc)
    • 3 fatias de pão de forma sem casca
    • 1 dente de alho

    para o molho:
    • 10 colheres de sopa de azeite extravirgem
    • 4 colheres de sopa de vinagre de vinho branco
    • 2 colheres de chá de mostarda de ervas
    • sal e pimenta-do-reino
    • uma pitada de açúcar

    junte os ingredientes do molho em um pote e misture bem. tampe e deixe na geladeira. lave e rasgue as folhas verdes grosseiramente, não se preocupe muito com regras. pegue uma frigideira, esfregue um pouco de azeite nela e toste levemente os pães. quando estiverem como torradas, raspe o dente de alho nos pães e corte em pedaços do tamanho que quiser. junte os ingredientes em uma vasilha: as folhas rasgadas, as torradas e o molho e misture bem.

    bom, terminamos esse post por aqui né? divirtam-se na cozinha, caso contrário, não vale a pena ; )

    crédito das fotos: Lara Lima

    inspiração: Jamie Beck Photography


    quarta-feira, 5 de outubro de 2011

    sonhos devem ser construídos.

    há muita diferença entre essas fotos além dos 3 anos de distância, né? pois é, a primeira foi há uns 3 anos atrás. eu já era garçom no outback de niterói, morava com amigos e provavelmente estava cozinhando pra eles. a segunda tem umas 3 semanas. muita coisa aconteceu nesse meio tempo. saí do outback, trabalhei atendendo em outros lugares, e amadureci a ideia de me tornar cozinheiro. comecei a estudar gastronomia, me formo ano que vem, e trabalho na área. tá, não no setor que gostaria, mas já é um começo.

    mas não foi muito simples. eu estudava economia, e pro meu coroa aceitar a mudança de um bom curso numa faculdade pública pra uma carreira incerta em uma área que só passou a ser vista com outros olhos há pouco tempo, foi complicado. na verdade, ainda é complicado. mas hoje eu digo que tá valendo a pena, e vai valer ainda mais. por que a questão não é 'o que você faz', mas como faz!

    eu respiro gastronomia. não me vejo fazendo outra coisa, e acho que não sou capaz de amar tanto outra coisa. ainda não tive essa experiência, mas acho que não deve existir nada mais prazeroso que pessoas que escolhem você para alimentá-las em um evento especial.

    resumindo: ainda não, mas um dia proporcionarei muito prazer a todos vocês =)

    o objetivo com esse blog é mostrar que gastronomia não são só risotos caríssimos, fígado de pato, chefs sorrindo em capas de revista, etc. mostrar que uma boa experiência gastronômica é, acima de tudo, um momento inesquecível com pessoas especiais e sabores agradáveis. mostrar que você também pode cozinhar, e você também pode perceber a diferença entre uma massa al dente e uma que passou do ponto. é mostrar que comer bem não é frescura, mas nem por isso precisa custar centenas a menos na sua conta bancária. mostrar que gastronomia é arte sim! e mostrar a trajetória de um muleke que realmente largou tudo pra seguir um sonho.

    por fim, mostrar que qualquer um pode ser o que quiser. você não precisa ser apenas médico, advogado, bombeiro, dentista, engenheiro, contador, economista (esses últimos são especiais). você não precisa ser nada disso. você pode ser cozinheiro, por que não?

    mas acima de tudo isso, você precisa ser feliz.